Atualidades? Ucrânia????
Bom gente, o que acontece é que, depois de muitas vidas pensando e meditando se isso ia dar certo, resolvi realizar um desejo antigo e começar uma sessão de atualidades no Muggle World. Porque acho que política, apesar de parecer algo chato e totalmente distante de nós, é super importante no nosso dia-dia, e acho que todos deveríamos largar o chat do Facebook um minutinho pra prestar atenção no que acontece no Brasil e no mundo.
Mas, por outro lado, sei que os jornais, tanto na TV quanto impressos, muitas vezes usam uma linguagem bem complicada de entender. As vezes os editores se esquecem que estão falando com pessoas normais, e não com PHD’s de Harvard. Por isso, essa sessão vai servir pra “traduzir” as notícias para uma linguagem mais fácil.
Talvez você encontre temas sobre os quais não entende muito bem; talvez você se sinta como se estivesse na escola e feche esse post depois do primeiro parágrafo. Mas confie em mim: você vai ficar culto & se divertir ao mesmo tempo. Só tente não dormir.
OBS: boatos de que ler só as linhas grifadas em vermelho serve como resumão do post para preguiçosos \o/
Bom, pra esse fevereiro que passou, escolhi um tema que ainda está bombando: os conflitos na Ucrânia.
Antes, é útil você saber que a Ucrânia é um país que fica lá no Leste Europeu, pertinho da Rússia (olhe o verde no mapa). Por isso, quando ouvir falar em Leste Europeu, ou Europa Oriental, pense logo nos países mais gelados da Europa.
E os países de lá não são apenas os mais gelados, como também são os menos desenvolvidos economicamente: esqueça o glamour de Inglaterra, França e Alemanha (os países da Europa Ocidental); os países do leste possuem, basicamente, indústrias para a exploração de minérios e petróleo, ou seja, nada das indústrias modernas e altamente tecnológicas que encontramos no resto da Europa.
EUROPA ORIENTAL: Rússia, Ucrânia, Geórgia, Uzbequistão, entre outros (a maioria é da ex-URSS)
EUROPA OCIDENTAL: Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Portugal, Itália, entre outros (a maioria é membro da União Europeia, uma associação comercial entre países europeus)
Esse relativo “atraso” ocorre por uma série de fatores, e um deles é que grande maioria dos países do leste fizeram parte da União Soviética (URSS), uma união de repúblicas socialistas que perdurou de 1917 até a década de 1990.
Por estarem numa economia socialista, os países da URSS demoraram mais a se modernizar do que os da Europa Ocidental. Além disso, a URSS era super “fechada dentro de si mesma”, e não mantinha muitas relações com os países ocidentais.
Acontece que, quando a União Soviética acabou, os países membros se separaram uns dos outros, constituindo o que hoje conhecemos como Ucrânia, Geórgia, Rússia, etc. O maior destes países é a Rússia, e esta ainda exerce uma grande influência sobre os outros países da ex-URSS, incluindo a Ucrânia.
Assim, mesmo com o fim da URSS, a Rússia ainda é totalmente “anti-ocidente”, e por isso, os russos não querem que as ex-repúblicas soviéticas se aproximem da União Europeia. A Rússia quer, na verdade, continuar mandando e desmandando nesses países.
E é aí que entramos, de fato, na crise ucraniana: grande parte da população ucraniana quer ter mais relações com a Europa Ocidental e ingressar na União Europeia. Por quê? Porque, como todos nós sabemos, a Europa Ocidental é extramemente mais desenvolvida (a verdadeira cara da riqueza). E a Ucrânia também quer compartilhar toda essa prosperidade.
Em novembro do ano passado, a Ucrânia quase chegou a assinar um acordo com a União Europeia, mas a Rússia, obviamente, não curtiu a ideia. Por isso, os russos ameaçaram parar de dar apoio financeiro aos ucranianos, de modo que o ex-presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, desistiu do acordo com os ocidentais e continuou ao lado dos russos.
Diante disso, a parte da população ucraniana que é pró-Ocidente saiu às ruas para protestar. Os protestos começaram pacíficos, mas após algum tempo se tornaram mais violentos, ocorrendo várias mortes de manifestantes em embates com a polícia ucraniana.
Finalmente, após vários meses de protestos e devido à forte pressão da opinião pública nacional (e internacional), o presidente Viktor Yanukovych foi deposto no fim de fevereiro.
Em seu lugar, assumiu o presidente interino Oleksander Turchinov (lindos nomes nesse post!), e novas eleições estão marcadas para maio. Turchinov é de inclinação pró-ocidente, e assim, pretende fazer esforços para se integrar à União Europeia.
Final feliz, certo? Ainda não.
A questão é que
algumas partes da Ucrânia são a favor da Rússia, e NÃO querem se integrar à União Europeia. Isso acontece porque há muitas pessoas que, apesar de serem ucranianas e morarem na Ucrânia, falam russo e adotam a cultura russa (veja no mapa ao lado).
Um dos lugares com maior número de pessoas pró-Rússia é a Crimeia, e é aí que o pau está quebrando mais, por assim dizer.
Assim, nesse momento, a Ucrânia está dividida entre aqueles que são pró-União Europeia, e aqueles que são pró-Rússia. Apesar de o ex-presidente Yanukovych ter sido derrubado, os embates entre essas duas “frentes” continuam, e por isso diz-se que o país corre o risco de entrar numa guerra civil.
Além disso, existe a possibilidade de a Rússia invadir a Ucrânia para evitar essa aproximação com a União Europeia.
E com essa zona toda, os EUA também entraram na bagaça, e obviamente, são super a favor de um governo ucraniano pró-Ocidente e anti-Rússia (lembram da Guerra Fria, com o embate EUA x URSS? A rixinha EUA x Rússia foi o que sobrou).
Por tudo isso, o conflito na Ucrânia não diz respeito apenas ao próprio país, mas traz consigo mais um monte de assuntos e problemas que podem atingir o mundo todo.
Update (24/03): Como não poderia deixar de ser, muita coisa mudou desde o dia em que escrevi este post.
Lembra da Crimeia? Bom, a população do lugar, que é pró-Rússia em sua maioria, realizou na última semana um referendo, no qual
a Crimeia decidiu se separar da Ucrânia e se integrar à Rússia. Por isso, agora a Crimeia é território russo.
A separação foi fortemente apoiada pela Rússia (óbvio), mas amplamente condenada por EUA e União Europeia. Assim,
como resposta às ações da Rússia, o Ocidente está impondo algumas sanções econômicas aos russos, para tentar "persuadi-los" a não anexar a Crimeia; no entanto, essas sanções são relativamente "fracas" e não estão fazendo nem cosquinha no presidente russo Vladimir Putin.
Então, tudo indica que a Crimeia se consolidará como território russo, e a Ucrânia terá que aceitar perder a região. Afinal, a alternativa a isso seria invadir a Rússia, o que desencadearia uma guerra de proporções muito grandes, tendo o envolvimento não só de Rússia e Ucrânia, mas também de EUA e Europa Ocidental. Tipo uma "terceira guerra mundial". E ninguém em sã consciência quer uma coisa dessas.
Depois dessa post gigante que está mais para aula de História/Geografia, espero que vocês tenham entendido e gostado do tema (provavelmente não, mas ok HAHAHA). A partir de agora, quando ouvirem algo sobre a Ucrânia no noticiário, parem pra assistir e veja como tudo vai fazer mais sentido.
Mandem o feedback aí. E se vocês não conseguiram ler tudo, falem também. SÉRIO. Só por favor não fiquem tipo “ai que legal” se você não leu nem dois parágrafos.
E se você já manja muito de política internacional e achou esse post bem “quinta-série”, essa era a ideia mesmo. O que não te impede de discutir o assunto em alto nível, right?